terça-feira, 18 de abril de 2017

Velociraptor + (tentativa de) Gobipteryx

Olá, no tutorial de hoje vamos destruir a imagem que vocês criaram a respeito do Velociraptor na década de 90. Em geral, as pessoas pensam em animais gigantes e cheios de escama - nada contra, são ícones pop, tem explicação histórica e merecem seu espaço - mas estamos em 2017 e aproveitei feriados e tal para finalmente realizar uma ilustração mais ou menos plausível que elaborei há algum tempo:

[gimp + azpainter, 2017]

Por incrível que possa parecer fiz questão de pegar medidas no modelo do Scott Hartman. Não há desculpa a respeito das penas das asas; já seriam bastante prováveis analisando a posição do Velociraptor na árvore de parentesco das aves e dos dinossauros, mas, se não bastasse, uma análise de 2007 achou marcas de encaixe de penas no osso do braço. Bingo. Além disso, o Velociraptor não era grande - devia pesar uns 15-20 kg e estava perfeitamente habilitado a morder seu joelho (o que, contudo, já causa estragos consideráveis). O formato do focinho do animal era bastante característico - fino, elegante, curvado para cima. Ele devia ser realmente bem bonitinho.

Já o Gobipteryx... bem, para as aves antigas é bem mais difícil achar referências (começando que já foi tenso foi virar a internet até achar referência de "aves da formação Djadochta"). Bora procurar aqueles PDFs de ciência que eu faço questão de olhar mesmo sem entender quase nada... enfim, o pobre Gobipteryx deve estar bem errado a começar pelo tamanho, devia ser um pouco maior, no chute, não sei (só sei que o crânio tem 4,5 cm)! Até os tracinhos de vôo devem estar imprecisos - será que ele conseguiria manobrar com precisão? Duvido. A cauda é outro drama: muitos enantiornites (um grupo de aves primitivas), ao contrário das aves modernas, não teriam penas em forma de leque na cauda, mas há ao menos uma exceção; e outros tantos teriam longas penas decorativas. Eu resolvi fazer o modelo mais simples apenas porque achei fofinho :3

Agora o comportamento... bem, vocês já viram por acaso bem-te-vis ou outros pássaros batendo em aves maiores, como gaviõezinhos? Não é um comportamento incomum (se alguém quer prova maior de que aves e tiranossauros são parentes, está aí nessa ousadia, não é?). Não creio que seja impossível que isso ocorresse com o Velociraptor. Talvez ele possa lutar contra um Protoceratops, mas será que não ficaria confuso com pássaros atacando em massa e surpresa? Ainda mais considerando que, pela análise dos ossinhos que sustentam os olhos, o Velociraptor seria noturno; então, durante o dia, talvez ele ficasse mais vulnerável.


Para o padrão de cores, busquei alguns animais de deserto e campos - o ambiente dessas espécies era bem árido, nada de florestas (comparem com o Herrerasaurus ^^). Para o Gobipteryx a expectativa era algo como um pardal do deserto (Passer simplex) com a máscara do simpático (e terrivelmente treteiro) sabiá do campo (Mimus saturninus). Realidade: lembra o Wolverine.

Pensei em fazer o Velociraptor como um papa-léguas (Geococcyx sp.), mas tava ficando mais parecido é com um ocelote então mudei para coruja buraqueira (Athene cunicularia). A cauda nem sei de onde tirei e fiz de alegre a manchinha vermelha no pescoço, depois reparei que lembra o tico-tico (Zonotrichia capensis).

Ainda teria muito a escrever (por que o Velociraptor de filme é daquele jeito? Por que a borda a asa do Gobipteryx é escura?), mas o post já está a caminho de um textão, e todo mundo deve estar cansado. Então, se vocês chegaram até aqui: muito obrigada! Se você é especialista e eu escrevi alguma enorme bobagem, fique à vontade para corrigir. Se não, e você está com alguma dúvida, também fique à vontade para perguntar!

Mais uma vez, obrigada! ^^

domingo, 16 de abril de 2017

Todor [11]

Sabe "limites"?

Então, eu não sei!

 [linóleo - c. 16 x 10,5 cm - 2017]

Décima primeira matriz do Toše Proeski. Já desisti de tentar entender (acho que vocês também), ou ao menos tentar entender de uma maneira que dê pra explicar fora dos Bálcãs.

Até tentei começar a trabalhar luzes e sombras previamente, no computador, como tenho feito nas últimas matrizes. Mas aí eu desisti e resolvi fazer do modo *raiz*: decalque, marcação básica de luzes, sombras e meio-tons, e confia em Shambhala pra gravação dar certo. E, modéstia totalmente à parte, não é que deu certo? Claro, sempre tem um ou outro ponto que poderia ser melhor. Mesmo assim, já virou uma das minhas matrizes favoritas dessa série!

É meu primeiro linóleo por aqui! Na verdade, a alternativa mais em conta - piso de palco :). Fiz algumas outras matrizes de teste, algumas provas com tinta a base d'água... mas essa é a primeira série que eu tirei bonitinha. Inclusive foi bem emoção esticar a tinta de gráfica, olhar pra matriz e depois pensar "é mesmo, eu não sei como a tinta reage nesse trem". A impressão tem todo um aprendizado intuitivo e implícito: o quanto entintar, o quanto a matriz absorve, a pressão exercida com a colher, "socorro meu Hahnemuhle é 300 g/m² será que funciona?" (ainda bem que Hahnemuhle papel mais bonzinho, fica lindo, sério, papel Shun de Andrômeda, o mais forte e sensível que tem, amo), etc etc. Bate uma ansiedade animada ver o papel cortado e uma matriz em um material novo para reaprender tudo. Felizmente, acho que consegui.

Como é habitual (jer sve mi boje baš stoje!), fiz mais algumas cópias em papéis para pastel, coloridos.

 [linóleo - aquele cerca de 10 x 15 habitual - 2017]

E, de modo inédito e não-habitual, resolvi imprimir em papéis para origami estampados!

 [linóleo - aquele cerca de 15 x 15 habitual - 2017]

Obrigada a todos que estão acompanhando (mesmo sem entender como está acontecendo uma série de gravuras de Toše no Brasil).

E, para quem comemora: Feliz Páscoa/Sretan Usrkrs/Среќен Велигден! Para os demais, bom domingo, de todo o modo :).

terça-feira, 11 de abril de 2017

Herrerassaurus - grafite e colorização

Lembram do Herrerasaurus da semana passada, o modesto contorno? Então, ele mudou um pouquinho desde então :3


[detalhe da colorização EM ANDAMENTO - mas o trabalho já está pronto, figura mais abaixo]

Como que isso foi acontecer?

Bem, o contorno da semana passada (a partir do modelo do Scott Hartman) na verdade foi preparação para um desenho em grafite.

[lápis azul non-photo e grafite sobre papel - A4 - 2017]

Usei apenas três lápis: o azul non-photo para delinear, e os grafites 4B e F para o preenchimento. Se vocês tem alguma curiosidade, devo ter levado umas três horas para completar o desenho, sem contar intervalos mais que necessários para descansar os olhos, a mão, e conseguir avaliar bem o andamento. Além disso, sempre tem um tempo de pesquisa de referências, em especial sobre aves (que são consideradas, efetivamente, dinossauros vivos) e crocodilos (que seriam parentes próximos dessa turma toda).

Depois fiz algum tratamento no Gimp e a colorização no AzPainter, e o resultado final está abaixo ^^.

[sério, gente, não deixem de clicar pra visualizar melhor!]

Não contei exatamente o tempo, mas levei a segunda-feira quase toda nisso. Para o padrão de listras e manchas, pesquisei um pouco sobre crocodilos (em especial filhotes) e lagartos de florestas (o Herrerasaurus teria vivido em um ambiente de vegetação densa). Resolvi fazer uma mancha azul no papo por intuição - em geral restaurações desta espécie, considerada frequentemente basal, são modestas em termos de cores. O esquema geral que escolhi é discreto, mas não seria impossível uma ou outra mancha brilhante. Afinal, essa linhagem deu nas aves! Vai saber já há quanto tempo cores brilhantes brilhavam por aí nos bichos. Depois descobri que, de fato, alguns lagartos têm manchas azuis iridescentes... então isso não seria impossível.

Resumindo, deu bastante trabalho, certamente ainda tenho muito a estudar e melhorar, mas estou bastante satisfeita com o resultado. Fazia algum tempo que não me dedicava, do começo ao fim, a um desenho tão detalhado! Mais uma pequena vitória :)

Obrigada a todos que estão acompanhando!

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Herrerasaurus da discórdia - WIP

Bom dia, gente boa!

Eu deveria estar fazendo um monte de coisa séria, mas resolvi parar e compartilhar esse contorno de Herrerasaurus:

[HERRERASAURUS   i s   c o n f u s e d !]

Foi feito no AzPainter a partir do modelo do Scott Hartman (e, bem, a rigor usei também o Gimp para ajustar a pose). Na verdade é só um desenho preparatório, mas achei que ficou bonitinho assim e resolvi publicar nesse ponto.

O Herrerasaurus viveu no que hoje é a Argentina há coisa de uns 230 milhões de anos (MUITO tempo até em termos de dinossauros), e, se eu entendi os dados, as estimativas de peso variam muito... 200kg? 300 kg? Parece "pouco" perto de clássicos como o T. rex, mas pensa num treco duas-três vezes mais pesado que um avestruz, só que cheio de dentes de carnívoro x__x. É algo a se pensar na hora de reconstruir as pernas!

A classificação do Herrerasaurus é ~polêmica~, já se discutiu muito se: era mesmo um dinossauro, ou um dinossauro basal, saurísquio basal, um sauropodomorfo (!!!), e recentemente era considerado um provável terópodo basal e eu estava tranquila assim... isso até aquele estudo do mês passado que colocou o Herrerassaurus fora do Ornithoscelida, mas próximo dos sauropodomorfos. Agora vocês entenderam meu choque?

A propósito... infelizmente parece que vamos ter que cancelar Ornithoscelida :(. As revisões iniciais pareciam promissoras, mas agora os problemas nos dados começaram a aparecer. Então por enquanto declaro que: estamos todos confusos, e aguardo ansiosa novas publicações, mais que capítulo seguinte de novela/série xD.

Bom fim de semana a todos!

sábado, 1 de abril de 2017

Ornithoscelida: reagrupando os dinossauros

A "arte" (seja lá o que essa palavrinha tão desgastada representa) é uma das muitas maneiras que temos para lidar com o que acontece ao nosso redor. E, bem, notícias científicas que bagunçam nossos paradigmas eventualmente exigem essas medidas especiais!



Para quem não sabe, um artigo publicado mês passado na Nature altera radicalmente as relações entre os principais grupos conhecidos de dinossauros. Sim, eu sei, quem está acostumado com ciência, está acostumado com mudanças. Cresci com imagens de um Plutão cinzento, distante, e misterioso, aí a New Horizons me aparece com um planeta laranja com um coraçãozinho; demorou um pouco para o termo Cetartiodactyla se "popularizar", com os hipopótamos e cetáceos priminhos tão próximos; e, claro, a grande "revolução emplumada" dos dinossauros nos últimos 20-30 anos, de modo que eu não consigo mais olhar uma pomba na rua sem pensar "olá terópode".

O que aconteceu foi mais um desses lembretes, e de um impacto que não se vê todo dia.

[carimbos comemorativos!]

[um pequeno terópode moderno :3]

Agora explicando (finalmente) o caso específico: há quase 130 anos, dinossauros (Dinosauria) são classificados em dois grandes grupos: saurísquios (Saurischia) e ornitísquios (Ornithischia), de acordo com o formato dos ossos da bacia. Os ornitísquios incluem diversos animais herbívoros como o triceratops, o estegossauro, o anquilossauro, o iguanodonte, o parasaurolofo. Entre os saurísquios podemos fazer mais uma subdivisão: os grandes herbívoros pescoçudos como o brontossauro de um lado (Sauropodomorpha/sauropodomorfos), e os carnívoros bípedes* de outro - tiranossauro, velociraptor, espinossauro - incluindo as aves, que são descendentes desses bichos (Theropoda/terópodes).

[* Nota: alguns grupos de terópodes não seriam carnívoros, e se discute a postura do espinossauro - mas as linhas gerais são essas. Na verdade, todo grupo tem sua exceção - um onívoro ali, um menos pescoçudo acolá, e por aí vai.]

Quem cresceu com livros de dinossauros consegue até datar as obras pelo modo que os animais são representados: postura, nomenclatura, modo de vida, PENAS - mas a classificação ornitísquios/saurísquios permaneceu consistente por bastante tempo. O artigo em questão altera esse quadro: ornitísquios e terópodes seriam primos chegados, e os sauropodomorfos ficariam mais de canto.

[Clique para ver o desenho maior e entender a história!]

Ei, e quem são esses herrerassaurídeos aí? O herrerassauro e seus coleguinhas são um dos grupos de dinosauros mais antigos conhecidos. Geralmente são carnívoros e bípedes, e várias espécies foram encontradas no Brasil e na Argentina ^^. Tradicionalmente, são clasificados junto com os terópodes, ou como um saurísquio primitivo. Confesso que a reclassificação do herrerassauro foi o que me deixou mais cho-ca-da nessa história toda. Tô bem bege.

Mudar tão radicalmente essas relações leva a outras consequências - muda ideias sobre o surgimento dos dinossauros, muda a percepção sobre a origem das penas... e muda até "o que é um dinossauro". A primeira definição, lá pra 1843, descrevia Dinosauria como o grupo que inclui Megalosaurus, Iguanodon e Hylaeosaurus - um terópode e dois ornitísquios. Tradicionalmente, isso "puxa" os pescoçudos para junto da turma; mas, agora, se vocês olharem a figura, eles ficariam de fora. Os autores do artigo tiveram que mudar a definição para evitar que isso acontecesse.

Resumo: vocês tem noção que a pomba na rua pode ser mais dinossauro que o brontossauro do desenho?

De nada ^^.

Uma última questão: e esse artigo é sólido mesmo? Olha, aparentemente sim. Como tudo em ciência, ainda precisa de revisão, confirmações, tem um pontinho ou outro a melhorar. Eu mesma não revisei, claro, porque eu não tenho a menor ideia de como fazer isso xD. Mas li críticas a respeito - e a parada realmente parece promissora.

O que podemos concluir sobre isso tudo? Pessoalmente: nada como chacoalhar um paradigma e ver tudo de novo com cores novas. A ideia é: "eu não sei, ainda estou longe, há muitas limitações, nunca saberei - mas mesmo assim estou sempre me esforçando em busca de algo mais fascinante".

Ainda não imaginei postura mais humilde e reverente em relação à natureza.

Ainda.

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Enfim, a você que leu até o fim: MUITO OBRIGADA, essa postagem foi longa mesmo! Se não for pedir demais depois de todos esses parágrafos, eu gostaria muito mesmo de ouvir a sua opinião a respeito. Se você é um especialista e notou alguma imprecisão, por favor, eu ficaria muito grata com correções. Se você é um leigo, eu gostaria de saber se está muito técnico ou confuso :S. Mais uma vez, obrigada!